sábado, 10 de fevereiro de 2007

Fuga pelo rio


Universidade Federal do Pará, campus do Guamá. Beira do rio. Alunos, entre outras figuras, em descontraídos bate-papos, ou estudando, ou namorando, ou... apenas apreciando a beleza da orla universitária! Barquinhos e canoas num vai-e-vem durante todo o dia compõem a paisagem. Por vezes uns pô-pô-pôs barulhentos, outras vezes alguns silenciosos. Barcos que, pegando carona na correnteza do rio, transportam pessoas e mercadorias. De onde eles vêm? Para onde vão? Por todo dia, essa é a cena que vemos: Crianças e adultos, ribeirinhos da redondeza, que precisam se deslocar atrás de comida e trabalho, ou apenas para transportar pessoas e mercadorias e pegam carona no rio. São pescadores e trabalhadores de pequenos portos situados às margens do rios Guamá, Bigojó e Guajará. Assim é o dia-a-dia de quem vive numa outra periferia da cidade, a periferia ribeirinha.

"Eu venho quase todos os dias de canoa, lá do Cacau, para deixar açaí e comprar alguma comida mais aqui pra frente”, conta Nazareno dos Anjos, de 15 anos, que parou de estudar na segunda série do fundamental para ajudar a família, tirando açaí e palmito nos açaizais da redondeza, e entregando em portos como o da Palha, vizinho à UFPA. “Agora que chegou o inverno, fica difícil conseguir comida porque o açaí fica escasso e a gente fica sem dinheiro...aí a gente fica sem comida, mas às vezes a gente dá um jeito”, lamenta.

As feiras da periferia não são abastecidas apenas pela Ceasa, pois existem ribeirinhos, comerciantes de produtos diversos que vão de carvão ao peixe fresco, de enlatados e farinha de mandioca a coco verde, que precisam fazer seus produtos chegarem a outros comerciantes e consumidores, por meio de um transporte mais barato.

Esse transporte alternativo, canoa ou barcos maiores, é uma saída para quem não tem dinheiro de ônibus ou quer fazer seu produto chegar ao destino mais rápido. O valor da “passagem” é cobrado na base da amizade. Quando o dono do barco não conhece o passageiro, é cobrado em torno de R$ 1,00 ou não, dependendo da distância percorrida. E os destinos são os mais diversos e desconhecidos, como Tanquã, Paciência e Cacau, chegando, às vezes, perto da ponte da Alça Viária.

Texto e Fotos: Rui Costa Pena

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