quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Bar do Matias: o ponto de encontro mais underground de Belém

Fosse pelo acervo de rock ou pela sujeira, o estabelecimento era singular



O bar Belém, mais conhecido por bar do Matias (nome do carismático dono do estabelecimento) seria hoje o local mais underground de Belém – como o foi outrora –, não fosse o próprio Matias ter assassinado um cliente em julho de 2005, fato que resultou no fechamento do local, um dos mais festejados pela galera que curte um som mais pesado.

Ana Lea Chagas Marçal, estudante do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), era uma freqüentadora assídua do bar Belém. “Eu estava lá toda semana e, apesar de ser um bar ´pé de rato`, era um ambiente muito agradável, principalmente para os amantes do rock”, afirma a futura jornalista. Vale ressaltar que bar “pé de rato” é aquele no qual a limpeza não é prioridade. “O banheiro era muito sujo”, complementa Ana. Pôsteres do Led Zeppelin, Queen e de outras bandas de rock completavam a aura tosca do local.
Ela conta também que Matias já sabia qual era o disco que a agradava. “Era só eu entrar no bar que ele colocava o disco da Janis Joplin”, ressalta a estudante. Segundo Ana Lea, ninguém em Belém possui o acervo de cd e vinil que o proprietário do bar Belém possui. Ou possuía.

Mas o acervo do Matias não se limitava ao rock. Marina Lima, Marisa Monte, Chico Buarque, Elis Regina e outros grandes nomes da Música Popular Brasileira (MPB) integravam a coleção. Verena Juliana, estudante do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade da Amazônia (Unama), conta que lá vigorava uma democracia musical. “Os clientes chegavam e pediam a música que queriam ouvir, alguns até levavam discos de casa para curtir lá no Matias. Pra evitar maiores conflitos sonoros, os pedidos rolavam por ordem de chegada”, diz Verena.
Questionadas sobre o temperamento do proprietário do estabelecimento, as duas afirmam ter ficado chocadas quando receberam a notícia do assassinato. Amigas, elas estavam lá no dia anterior ao crime e chegaram a penhorar um celular para pagar a conta no outro dia, o dia D. “No dia do assassinato, eu fui lá para recuperar meu celular e pagar a conta”, relata Ana Lea. Saíram antes do crime acontecer. “Sabia que o Matias era uma pessoa de gênio forte, mas não imaginava que ele pudesse chegar ao ponto de matar um cliente”, complementa a futura jornalista. Hoje, elas celebram por terem penhorado o celular em vez de discutirem a conta com Matias.

Uísque - Sabe-se que o motivo do assassinato foi uma dose de uísque, mas as circunstâncias em que o mesmo ocorreu são desconhecidas. À época, um jornal de grande circulação divulgou duas versões, uma contada pelas testemunhas e outra relatada pela delegada responsável pelo caso.
As testemunhas teriam afirmado que a vítima, reconhecida como André Barbosa Figueiredo, pedira uma dose de uísque no bar. Ao receber a conta, achou muito caro e, revoltado, iniciou um quebra-quebra no local. Na versão da delegada, André entrou no bar portando uma garrafa de uísque e revoltou-se quando Matias cobrou-lhe a quantia de R$ 4 para bebê-la no local. Testemunhas e delegada afirmaram, em coro, que o proprietário ficou furioso pelo estrago que o cliente causara no bar e cometeu o assassinato.
Segundo o mesmo jornal, um policial teria liberado um documento para a imprensa, na ocasião, no qual relatava que a causa da morte de André Figueiredo teria sido asfixia mecânica. Antes de falecer, a vítima teria recebido vários golpes de cadeira e mesa, sendo imobilizado por Matias posteriormente. Ao chegar ao local da confusão, após receber comunicado pelo CIOP, o policial encontrara Matias deitado sobre o cliente e com as mãos no pescoço do mesmo. Hoje, quase dois anos depois do crime, Matias não está mais preso, porém responde por processo na Justiça.

Órfãos – Uma comunidade no Orkut (“Órfãos do bar do Matias Bel-PA”) é o ponto de encontro virtual da galera que freqüentava o extinto ponto underground, recheada de lembranças, lamentações e sugestões de locais que se assemelhem ao bar Belém. A comunidade, ainda não muito visada no universo “orkutiano”, tem poucos participantes (eram somente oito até o término desta matéria) perto do contigente de clientes fiéis que o bar do Matias conquistou.

O outrora Bar do Mathias, hoje uma casa comum... (By Rui Costa Pena)

Atualmente, na Avenida José Malcher, 2.121, endereço onde funcionava o bar e onde o próprio Matias residia com a família, restam apenas muitas histórias para contar, inclusive para o “Belém já teve” do Pauta B.

Antonio Fausto

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei a matéria...
É de se entender que o bar não funcione mais.
Tenho medo do Mathias, não demora essa comunidade surge no orkut.